
Tiririca completa seis anos de Câmara, sem falta e sem discurso
Na noite do último 17 de
abril, o primeiro palhaço eleito deputado federal no país estreou no microfone.
“Senhor presidente, pelo meu país, meu voto é sim”, disse, em tom seguro e sem
gracejos, o deputado Tiririca (PR-SP) ao ser chamado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
para declarar seu voto – o 197º a favor da abertura do processo de impeachment
da presidente Dilma Rousseff (PT). O parlamentar foi saudado com festa pelos
colegas. Aqueles cinco segundos são os únicos, até o momento, em que a voz de
Tiririca foi captada pelo sistema de som da Câmara em seus seis anos de
mandato. Eleito pela primeira vez em 2010 com a segunda maior votação da
história à época (mais de 1,3 milhão de votos), o deputado paulista é
responsável por dois feitos: jamais falta às sessões mas também nunca discursa.
As
duas marcas são raras no Parlamento brasileiro. Grande parte dos parlamentares
disputa o horário nobre do plenário para fazer pronunciamentos. É o momento de
garantir espaço nos órgãos oficiais da Casa, como a TV Câmara, e no programa “A
voz do Brasil”, canais que dão visibilidade às ações políticas de deputados e
senadores em suas bases eleitorais.
A
assiduidade em 100% das sessões reservadas a votação, aquelas em que a presença
é obrigatória, é coisa para pouquíssimos. Além de Tiririca, apenas os deputados
Lincoln Portela (PR-MG) e Manato (SD-ES) não tiveram falta nos últimos seis
anos, período em que foram realizadas 612 reuniões em plenário convocadas para
analisar projetos, medidas provisórias ou propostas de emenda à Constituição.
Os dados são de levantamento do Congresso em Foco.
Nas
principais votações de 2016, Tiririca votou “sim”. Ele se manifestou a favor do
impeachment de Dilma, da cassação de Eduardo Cunha, do teto para os gastos
públicos, da reforma do ensino médio e do pacote de combate à corrupção, com a
emenda que prevê o enquadramento de magistrados, promotores e procuradores
entre as figuras públicas passíveis de responder por abuso de autoridade.
Produção
legislativa
Na
Câmara desde fevereiro de 2011, Tiririca apresentou 14 projetos de lei, dois
deles assinados em conjunto com colegas. Entre as propostas sugeridas por ele,
seis pretendem assegurar direitos à comunidade circense, na qual ele começou
sua carreira artística ainda criança. O deputado é titular da Comissão de
Cultura, onde é um dos mais assíduos também. Faltou a apenas 3 das 24 reuniões
realizadas pelo colegiado em 2016.
Uma
das proposições de Tiririca determina o reconhecimento do circo como
manifestação cultural para que a categoria possa ser beneficiada com os
incentivos fiscais da Lei Rouanet (PL 5095/2013). Ele também propõe a inclusão
do trailer e do motor home utilizados por artistas de circo como moradia no
programa “Minha Casa, Minha Vida” (PL 5094/2013).
Em
outros dois projetos, Tiririca sugere a isenção do Imposto sobre Produto
Industrializado (IPI) para veículos usados em atividade circense (PL 3544/2012)
e mudança na legislação para garantir aos filhos de artistas de circo, na faixa
etária de 4 a 17 anos, cuja atividade seja itinerante, vaga nas escolas pública
ou particulares (PL 1528/2011). Entre as propostas não voltadas ao circo,
Tiririca defende mudança na legislação para impedir a substituição de
candidatos inelegíveis com base na Lei da Ficha Limpa. A prática tem sido
recorrente nas eleições e, muitas vezes, o candidato barrado é substituído por
parentes e, assim, a família acaba conquistando a vaga.
Em
seis anos, o deputado relatou 15 projetos. Alguns deles batizam vias e
viadutos. Um chegou a virar lei (13.244/2016), o que confere ao município de
Caçapava (SP) o título de Capital Nacional do Antigomobilismo, de autoria da
ex-deputada Aline Corrêa (PP-SP). Outra proposta relatada por ele institui o
Dia Nacional do Condutor de Ambulância.
Verba
indenizatória
Embora
esteja entre os mais assíduos, Tiririca não está entre os mais gastadores. O
deputado utilizou R$ 304,7 mil da verba a que tem direito para ressarcir
despesas atribuídas ao mandato desde o início da atual legislatura, no começo
de 2014. Entre os 613 deputados que exerceram o mandato em algum momento de lá
para cá, 511 gastaram mais que ele. Do total, R$ 240 mil foram consumidos com
passagens aéreas, entre Brasília e São Paulo. O restante foi gasto com
combustível, aluguel de carro, telefonia, alimentação e manutenção de escritório.
A verba indenizatória faz parte da Cota de Apoio à Atividade Parlamentar (Ceap)
e seu valor varia de R$ 30.416,80 a R$ 45.240,67, dependendo da unidade
federativa do parlamentar.
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